O preço ou o valor das coisas

O que é que os combustíveis sem aditivos ou de marca branca têm a ver com a decisão de consumir produtos biológicos?

“No meu carro não ponho esses combustíveis da treta. São baratos, pois são, mas depois só me dão chatices. Outro dia um amigo gastou 4000€ no carro por causa disso”.
Já andava há uns tempos a pensar nisto e, quando outro dia ouvi isto na bomba onde costumo ir, pensei: “Está na hora de desembuchar!”
Escolher entre a saúde do carro ou da família. Dito assim até parece impossível que a escolha recaia sobre o dito, mas acontece muito mais do que possamos imaginar.
Só pode ser porque não paramos para pensar...digo eu...

“Vou às compras a esta grande superfície porque é tudo muito em conta, mas nunca ponho combustível na bomba, não tem qualidade nenhuma”.
Esta frase faz-me começar a entrar em parafuso, veem uns calores, não sei bem de onde e tenho que fazer um grande esforço para conter a irritação que se apodera de mim.
Se todos os que usam os combustíveis mais caros consumissem biológico, este cantinho que é a Europa estaria em melhores lençóis (freáticos, pelo menos...).
Mas seria injusto da minha parte generalizar esta afirmação. Felizmente há cada vez mais quem não confunda preço com valor e é graças a muitas dessas pessoas que a Quinta do Arneiro existe. Aqui trabalhamos afincadamente para dar valor aos nossos produtos.
O biológico tem um valor incalculável, disso tenho a certeza. Pode ser caro sim e muito me preocuparia se um dia estivesse próximo ou ao preço do convencional. Alguma coisa estaria errada. Produzir em modo biológico é caro.

“Ah! Mas o Biológico devia estar ao alcance de todos”.
“Ao alcance de todos” é difícil, é verdade. Infelizmente neste planeta “ao alcance de todos” só mesmo o ar que respiramos. Mas estará ao alcance de muitos! Há é que fazer opções: como entre a saúde do carro ou da família...
“Mas a produzir biológico não se consegue alimentar toda a gente...” Sobre este argumento (falso) há tanto para dizer que um dia havemos de falar sobre isso.

Produzir em modo biológico é bem mais caro do que produzir em modo convencional:
Desde logo porque na agricultura convencional os preços estão imensamente deflacionados. A pressão dos preços na produção convencional é tal que se produzem alfaces para vender a 0,20€/kg, isto depois de, no mínimo, mesmo acelerando o processo ao máximo, tendo que esperar um mês desde que se semeiam até se que colhem, se produzem pêras que se vendem a 0,18€/kg depois de um ano à espera e à mercê de tantas condicionantes.
Agricultura não é indústria, ou seja, assim o espero. Felizmente não há como carregar num botão e desatar a fazer alfaces, tomates, maçãs e pêras... É verdade que a produção em hidroponia já se assemelha a uma fábrica. Sempre na mira da máxima produção/menor custo, chegou-se ao cúmulo de produzir sem terra... Isto a mim não me entra na cabeça...
Os processos usados em produção biológica são caros. Não usar herbicidas obriga a muito trabalho manual em mondas; não usar fertilizantes químicos implica ciclos de crescimento mais longos, cresce tudo mais devagarinho; fazer rotações obriga a ter policulturas; não usar fungicidas e inseticidas químicos reduz em muito a eficácia no combate às pragas...

E pronto, uff, já desabafei... :-) Fico-me por aqui, na esperança que haja quem leia e fique a pensar...







5 comentários:

  1. Estou fã do biológico... é como voltar aos sabores de casa dos meus avós.

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  2. Adorei o texto, concordo com cada letra ai escrita.

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  3. Confirmei o que já sentia no meu micro-quintal sem pesticidas ou herbicidas!
    SÓ tenho pena que ainda não exista muita oferta de produtos verdadeiramente biológicos pelo país!

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  4. subscrevo de alma e coração :)

    http://lovewithknives.blogspot.pt/2009/10/biologico-bio-ecologico-e-integral.html#

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  5. Eu conheço tudo isso. E admiro os saberes 'antigos'. Aqueles que hoje têm idade para ser meus avós, (a maioria talvez no cemitério) cresceram numa época em que a subsistência dependia totalmente da terra. Dos produtos da terra, fosse na criação de grão, vegetal ou animal. Isso de "biológica" seria para rir nesses tempos.

    Uma vez ouvi na TV um senhor dessa geração dizer que as pragras nos frutos combatem-se bem sem o recurso a químicos perigosos para a saúde. E lá deu um exemplo. Pareceu tão convicto daquilo que os seus anos e anos de experiência lhe diziam... Eu acreditei.

    Mas acho que esse conhecimento, antes tão comum em várias famílias, hoje quase caiu no desconhecido. Técnicas inocentes e funcionais podem mesmo ter sido esquecidas. E quanto mais tempo passa, menos saber é transmitido. Lamento muito essa perca. É saber, tradição e a base da subsistência.

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