Empresas do meio

Nunca na vida me passou pela cabeça, até há 7 anos atrás, que poderia vir a ser responsável por 40 postos de trabalho. Nunca, mesmo. Não me considero uma empresária, ou melhor, não sou uma empresária. 

Falta-me o espirito. Falta-me a organização mental. Falta-me a racionalidade a que "as contas" obrigam. Falta-me olhar para o negócio como um modo de "enriquecer". 

Se me dizem que para ser mais rentável é preciso tomar medidas que podem desvirtuar o conceito, a minha resposta é não. 

Se me disserem que não é possível continuar seguindo os princípios de respeito pela natureza, fazendo uma agricultura baseada numa sustentabilidade real, cozinhando em panelas pequenas, usando as mãos das pessoas em vez das máquinas, eu vou-me embora. É que vou mesmo! 

Mas tenho a sorte de não ser só eu a pensar assim, somos muitos, cada vez mais e muitos estão aqui. 

O que se passa aqui (já estou cansada de falar em projetos :-)) é algo muito raro. Por isso tão difícil mas também tão desafiante. 

Conseguir conciliar rentabilidade com coração, princípios rígidos e ética é obra. 

Quantos e quantos projetos que admiramos não se aguentam porque o mundo é tramado? porque só nos lembramos deles quando começam e quando acabam. Porque não os "suportamos" realmente? 

Quantos dos que fazem as coisas com o coração, com responsabilidade social, com vontade de deixar melhor do que encontraram já ouviram: 

-É lindo, parabéns! 

Quantos desses "-É lindo, parabéns" compraram? 

Parabéns não pagam ordenados. Quantos projetos que merecem viver eternamente se apagam num ápice porque todos adoramos mas ficamos por aí? 

E depois há aquela coisa bem portuguesa da humildadezinha. Sim, já muitas vezes me apeteceu mostrar a maravilhosa empresa que somos, mas,"- ah...não fica lá muito bem ... temos que fazer para nós, não é necessário mostrar aos outros..."

Hoje decidi que é! 

Felizmente temos a enorme sorte , também trabalhamos para isso como é óbvio, de ter uma empresa que se suporta a ela própria. Parece que às vezes incomoda. Quantas vezes já ouvi "- vocês agora são grandes, temos que ajudar outros", e será pecado crescer?  parece que só pode haver micro e macro empresas, as primeiras para dizermos que são maravilhosas, as segundas para dizermos mal mas para irmos lá todos os dias comprar barato. 

Mas há aqui este meio. E o meio é sempre tramado. Porque as obrigações são muitas, os custos são muitos e a rentabilidade nunca é proporcional. 

Mas somos uma empresa orgulhosa. Nada sai daqui sem fatura, pagamos os impostos todos sem "hesitações", (sim, é o dever de todos). Não temos pessoas a trabalhar a recibos verdes nem com contratos precários. Somos orgulhosos de empregar pessoas com deficiência. A idade aqui é um posto. Cumprimos  todas as nossas obrigações sociais. 

Não procuramos as matérias primas mais baratas mas sempre as melhores. Nunca vamos pelo mais fácil mas pelo mais duradouro. 

Se tudo isso moe? desgasta? sim, esta sociedade não está feita para este tipo de empresas. Todos os dias temos que fazer das tripas coração para nos mantermos neste mundo onde as empresas dão o coiro e o cabelo para se manterem à tona. 

Nós não queremos ficar carecas. Queremos manter a nossa independência porque independência é sinónimo de dignidade. Queremos ser donos e senhores das nossas decisões e responsabilizarmo-nos por elas. Não queremos viver a olhar para o lado, em "combate" com a concorrência. Não queremos porque não abdicamos por nada, dos nossos valores, por isso temos que manter o nosso caminho. 

Mas tudo, tudo isto, só é possível, porque temos uma equipa maravilhosa que torce para que dê certo e porque temos, MESMO, os melhores clientes do mundo, clientes que são fieis a valores. 

Bem hajam