Apresento-vos os nossos trabalhadores estrangeiros

Apresento-vos os nossos trabalhadores estrangeiros. 

O Boonchu, o Chaiwat, o Prathueang e o Pachernchok são tailandeses. O Forhadul veio do Bangladesh. O Navjot, o Gurmeet, o Sarbjit e o Gurpreet são indianos. Os primeiros chegaram há dez anos o último há uns meses. 

Fazem todos parte do nosso quadro de pessoal. Como é óbvio têm vencimentos iguais para trabalho igual com o bónus de uma casa que foram estrear. 

Já não é a primeira vez que vos falo deles. Mas desta vez servem de introdução para um assunto realmente delicado. 

Todos eles já estavam em Portugal quando os contratámos. Trabalhavam para empresas de trabalho temporário. Viviam na incerteza. Todos pagaram para cá chegar. Houve quem pagasse 8000€ ou mesmo 12000€!! Depois ficam dois ou três anos a pagar a divida. Só depois disso é que se podem considerar livres. Se mesmo depois de paga a divida continuam a ser explorados? se continuam eles nunca vão dizer. 

O que me fez voltar ao assunto foi a dificuldade que estamos a sentir para que o primo de um dos nossos trabalhadores possa vir juntar-se a ele. Pelos trâmites normais não está a ser nada fácil. Todos sabemos que entram ás centenas ou mesmo milhares por dia. Chegam para trabalhos sazonais, acabados os trabalhos são deixados por sua conta. Sem visto e sem dinheiro. Há empresas de trabalho temporário que os vão buscar aos países de origem e que os colocam em empresas nacionais. São as empresas que recebem os vencimentos e antes de lhes pagarem há algumas que descontam 200€ ou mais por uma cama num quarto onde dormem seis ou oito. Claro que é tudo legal. Uma legalidade vergonhosa. 

Haverá muitas Odemiras, pode haver muitas reportagens, mas estes homens (maioritariamente homens) vão continuar a ser explorados. O problema não são as cozinhas sujas, porque quem as suja são eles. O problema é não terem voz, é terem medo de denunciar. 

Há alguns anos, e quando soube que o Boonchu estava a pagar 8000€ em prestações mensais, disse-lhe para não pagar mais. Na altura já estava connosco e já tinha pago cerca de 6000€. Disse-me que não podia parar de pagar. "- tenho família na Tailândia..." 

Falamos em escravatura do sex XXI como quem fala de um qualquer assunto banal. Não os queremos a "encher" as nossas aldeias. Muita sorte temos nós porque são gente de bem. Se a revolta fosse do tamanho da exploração tínhamos o caldo entornado. 


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