O Discurso


O Restaurante abriu em Junho mas optámos por não fazer a "inauguração" na altura. Quisemos consolidar (como se diz agora) e esperar que os amigos e clientes viessem de férias. A inauguração "oficial" foi no sábado passado (gostámos tanto que quem sabe se não fazemos mais algumas...:-))  
O que vos deixo hoje aqui foi o que tive vontade de dizer no dia e que se estende a todos os que apesar de não terem estado são parte integrante desta história. 

"Hoje não quero contar histórias, fazer declarações de intenção, listas com pontos de a fazer ou relatórios sobre o que está feito.
Não vou fazer balanços nem previsões para o futuro.
Hoje só vos quero dizer que estou imensamente grata a todos os que nos ajudaram a chegar aqui.
Aos nossos clientes, os primeiros na lista, os mais importantes, sem eles não havia esta Quinta do Arneiro, bem podíamos ter querido mas nunca tínhamos conseguido. Não tínhamos 5000m2 de estufas, não tínhamos 10ha a produzir em ar livre, não tínhamos um armazém de embalamento, não tínhamos  acrescentado 22 postos de trabalho em 6 anos , não tínhamos este espaço. Por isso o primeiro e gigante muito obrigada é sem duvida para eles.
O segundo só podia ser para os que cá trabalham por me aturarem os bons e os menos bons momentos, os maus humores, o querer tanto que tudo bata certo, sim porque a luta tem sido grande, por se esforçarem tanto para estarmos aqui, sim porque realmente se esforçam, por mostrarem sempre o melhor de nós em delicadeza, simpatia, disponibilidade. Sem este grupo praticamente escolhido a dedo, tudo seria diferente.
Depois os meus filhos  a quem mais do que agradecer quero pedir desculpa pelas  enormes ausências mesmo estando a 4 passos de casa, os maus humores nos dias piores, o ter transformado este projeto num filho mais novo a quem dedico uma atenção muitas vezes desmesurada.
Logo a seguir as minhas amigas especiais porque estiveram sempre comigo, a dar o litro, quando o barco era pequeno e ninguém dava nada por ele. Como sabem são essas horas que contam, são ações que nunca se esquecem. Por muito longe que cheguemos são elas as amigas do coração. Acreditaram comigo, deram-me força para continuar.
A seguir todos os que nos deram o melhor do seu trabalho  especializado em troca de nada e foram tantos meu Deus !! incrível como nesses momentos em que ainda éramos pequeninos houve tantos que nos ajudaram. E incrível como continua a haver. Nunca vou esquecer. Considero-os amigos para a vida.
Depois os nossos amigos “vip” que fomos conhecendo pelo caminho, que acreditam no que nós acreditamos, que nos ajudam a divulgar esta Quinta e que hoje são tão importantes para nós 
Os nossos fornecedores que nos ajudam a preencher os cabazes com o fruto do seu trabalho. Que tal como nós se esforçam todos os dias para produzir de um modo tão difícil como compensador. São os verdadeiros heróis da agricultura.

Depois todos vocês que estão aqui hoje e que apesar de não fazerem parte deste projeto fazem parte da história da minha vida. E sem a minha história de vida eu hoje não seria eu.

Por fim o meu filho Duarte, por estar aqui, por se estar a dedicar de corpo e alma. Por me fazer sentir que a Quinta do Arneiro vai poder continuar. Nunca fui assim, nunca tentei impor ou sugerir aos meus filhos que seguissem o que eu fazia, até aqui, até chegar aqui. Porque acho que o que está a acontecer é tão “à frente” tão importante, tão parecido com o futuro que eu gostava para os meus netos, que começo a “rezar” para que se deixem ficar e continuar.

Sei que estão todos comigo mas a viagem é a maior parte das vezes solitária, a decisão de ir em frente,  o saber escolher o lado certo, o saber que venha o que vier sou eu que tenho que responder, o querer cumprir com a palavra dada, o não querer abdicar daquilo em que acredito, é duro é realmente muito duro. Não sabia que podia ser tanto.
O gozo é enorme mas o desgaste também.
O meu pai deixou-me esta Quinta, eu luto todos os dias para  passar  o fogo e não ficar a adorar as cinzas.

Mas há dias em que queima. 

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