Dá que pensar...




Há cerca de duas semanas atrás, estava a fazer o meu caminho para casa e dei por mim parada no trânsito a ver um homem a sulfatar os seus campos de cultivo. Lá estava ele, equipado da cabeça aos pés, tal e qual um enfermeiro na linha de frente na luta contra a pandemia. 

De cabeça quente, a vontade era sair do carro e perguntar o porquê de estar tão tapado enquanto trata do alimento que lhe irá servir a ele e a muitos outros. Poderia perguntar até se lhe fazia sentido “nutrir” a planta e o solo com algo que nem deixa que lhe toque na pele. Tudo isto para mim era de uma falta de lógica imensa. Depois de algumas respirações bem profundas, perguntei-me a mim mesma: Será que ele sabe? Será que ele sabe o que está a fazer ao solo, a todos os pequenos ajudantes que poderia ter e à biodiversidade que esta terra merece? Será que ele entende o impacto que vai ter na saúde de quem consome os alimentos que ele produz? 

Estas e muitas outras perguntas continuaram a assombrar-me até chegar a casa, quando me sentei e questionei-me “Será que alguma vez aquele homem foi informado sobre tudo isto que aqui me vai na cabeça?”. Somos de gerações diferentes, de realidades diferentes. Eu nasci numa Quinta que aos meus 10 anos se virou por completo para a agricultura biológica, falo do assunto desde que me lembro de ser gente, mas e ele? 


Foi aí que se fez luz! O que para mim é óbvio, para muitos nem lhes passa pela cabeça. Por vezes, não será só a teimosia ou a ideia de que uma produção BIO não é rentável. Por vezes talvez seja mesmo a falta de informação que nos impede de fazer melhor. 

Num mundo capitalista e governado pelo dinheiro e pela indústria, onde se insere o respeito à nossa saúde e do nosso planeta? À velocidade em que o mundo anda, até quem vive da terra pode escolher não parar para observar. Estes assuntos ainda não são ensinados na escola, ainda não são muito falados nas notícias ou nos programas da televisão nacional. A sustentabilidade está a tornar-se mais numa estratégia de marketing do que num modo de viver. 

Para mim, é óbvio, somos parte da Natureza e por isso temos de a respeitar! Seja a consumir BIO, seja no combate aos combustíveis fósseis, seja a reduzir o nosso consumo de proteína animal, seja a evitar embalagens nas nossas compras semanais. No entanto, para muitos, compreensivelmente, nem chega a ser um pensamento passageiro. 

Aqui a vontade da preguiça é dizer: “Nem vale a pena! Sou eu que os vou informar? O mundo está ao contrário e se calhar não há nada a fazer!”, mas se há coisa que tenho vindo a aprender é nunca deixar a preguiça tomar conta de mim!

É por isso que vos escrevo este pequeno apelo! Um apelo, a nada mais nada menos, que a prestarem atenção e acima de tudo a questionarem! 

Questionem de onde vêm os vossos alimentos e como são tratados; questionem se não podem fazer de vocês mesmos a prioridade e alimentarem-se com alimentos ricos e do bem; Questionem o porquê do “barato” e depois questionem o porquê do “caro”. Questionem se a nossa Casa não merece o nosso respeito?! Este lugar que nos possibilita a vida, que nos providencia alimento, que nos dá condições não só para sobrevivermos, mas também para prosperarmos. 

Lá está, quem sou eu para vos ensinar?! Uma miúda de 23 anos que quer um futuro de abundância para todos. Talvez achem que isto seja algo utópico, talvez irrealista ou talvez não. O que eu sei é que a nossa relação com a Natureza é das poucas coisas que tenho como certeza. Não vos peço grandes mudanças, nem que se tornem nos maiores ativistas. A única coisa que peço é que olhem para o mundo com a curiosidade de uma criança de 10 anos e questionem o que vêm à vossa volta e no final avaliem se podem fazer melhor. Não perfeito, mas melhor! 

 

Aproveito também para vos agradecer por tudo o que já fazem, para que este meu futuro idealista se torne realidade!


Carlota 

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