Isto são cenouras?


Esta semana vamos ter visitas todas as manhãs. Hoje tivemos um grupo que frequenta o 4º ano.
Nestas visitas o meu principal objetivo é que saiam daqui a pensar que afinal a agricultura até nem é o que lhes parecia. Mostrar que o campo é uma caixinha de surpresas, que da horta saem produtos maravilhosos, que é nossa obrigação respeitar a natureza, que é ela que nos dá a comidinha essencial à nossa sobrevivência... Tudo isto me dá muito gozo. O meu sonho era ter toda a plateia absorta com o meu discurso, mas, depois de muitas visitas, já desisti… Se metade estiver atenta já é uma excelente média.

E hoje à pergunta “Então sabem o que é agricultura biológica?”, lá houve uma vozinha que respondeu: “É uma agricultura que só usa estrume”. Perguntei aos outros: “Então não aprenderam na escola? Não falaram desta matéria este ano?”. O que me responderam foi: “Aprendemos. Aprendemos mas já não nos lembramos”.
Esta resposta é recorrente nos mais variados grupos em visitas à Quinta, sejam do 4º ano ou do 12º. Todos se lembram de já ter falado no assunto, mas não têm grande ideia do conteúdo. Apenas algumas ideias soltas, resultado de algum empinanço para algum teste. E normalmente acrescentam: “Isso é uma seca!!!”

Isto faz-me pensar um pouco no ensino que temos. A maior parte das matérias para a maior parte dos miúdos “é uma seca”. Esta coisa de querermos “meninos cultos” em vez de querermos “meninos práticos”, transforma o ensino em algo completamente desajustado à realidade. Se já na minha época a escola não era a coisa mais apetecida, na era do agora, um ensino predominantemente teórico poderá ser uma “enorme chatice”, concordam?
Começámos o passeio e, mais uma vez, constatei que a maioria das crianças, que neste caso vivem numa pequena cidade a, literalmente, dois passos do campo, nunca tinham visto uma horta. Não sabem andar no campo, qualquer insecto é motivo de aflição, ficam muito cansados a subir uma ladeira, todas as plantas são possivelmente cenouras... Mas no fim adoram, vê-se que saem satisfeitos e felizes e com vontade de voltar.
Se começam relutantes, como começam sempre, e no fim gostam porque é que mudam de opinião?
Porque experienciam. Têm que se safar das possas de lama, descobrir as diferenças entre a rama do alho francês e da cebola, provar folhas disto e daquilo, umas que “picam”, outras que sabem a rebuçado, outras que afinal até são boas... Comer flores, aprender que a natureza tem sabores muito diferentes, mil cheiros e cores. O que se deve comer no Verão não é o mesmo que se deve comer no Inverno. Aprendem que há bichinhos que fazem falta e outros que estragam tudo. Descobrem que comer vegetais até é bom e que, afinal, a horta é um local cheio de coisas boas.


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