Quando começam os fogos não paro de pensar no cerejal (que sobrou) da Ana e do Zé. Será que vai resistir? E é uma angustia pequenina a minha.
Não consigo imaginar o que vai no coração, na cabeça e nas contas de todos os que vivem com o fogo como uma possibilidade permanente durante os meses quentes.
Raios os partam a todos os que deixam que isto aconteça.
Nunca em 50 anos soube ou vi nada assim. Os últimos dois valem por quantos?
Já todos percebemos que nada volta a ser como era nem tão pouco parecido, nem tão pouco vai haver casas para substituir casas, nem tão pouco vai haver árvores para substituir árvores, nem animais para substituir animais, nem nada para substituir nada, porque nada vem nunca mais, e quando vem já não vale nada. E depois vem outra vez o fogo...
E depois, só se ouve, "- ah mas os eucaliptais das grandes empresas não ardem", estes comentários causam-me náuseas... Não ardem porque as "grandes empresas" têm dinheiro para ter um corpo de bombeiros profissionais, têm com certeza meios de comunicação que nem o estado imagina que existem, têm dinheiro para limpar tudo muito bem limpinho. E todo esse dinheiro vem da rentabilidade que os eucaliptos dão a quem tem a linha de produção completa: do eucalipto ao papel.
Então o melhor é entregar todos os terrenos do interior deste país às empresas de celulose, vão com certeza protege-los muito bem. E assim já não ardem casas, já não morre gente.
Mas morre a gente que já não vai poder cultivar em seu nome, a gente que, para sobreviver ou viver vai ter que ir trabalhar numa grande empresa seja lá do que for.
E esta é a história dos fogos mas podia ser a história de todas as empresas que não são "grandes" e o esforço (enorme) que têm que fazer para se manter, com os seus recursos, num mundo de "eucaliptais profissionais".
E ainda nem falei da impunidade... o fogo aparece assim... os senhores das câmaras roubam o dinheiro assim ... mas era outra história. O titulo podia ser: "o senhor de Pedrogão Grande já se foi embora?"
E ainda não falei de outras coisas .. pode não acontecer nada mas não dá para ficarmos calados.
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