A arte de saber parar



Na agricultura saber parar é algo que, a mal ou a bem, temos de aprender. Ora, claro que não é parar por completo, mas saber esperar, saber observar, porque sem estas capacidades dávamos em malucos. Se não soubermos dar tempo para as plantas crescerem acabamos por tirar tudo o que de melhor elas têm, perdemos a vida que se constrói à volta dessa planta. Perdemos toda a sua essência. Quanto mais aprendemos a estar parados e a observar estas pequenas coisas, mais entendemos a sua importância. Quem tiver filhos vai com certeza perceber o valor que tem vê-los crescer ao ritmo deles.


Hoje, quem não vive numa correria constante ou é monge ou é preguiçoso. Nós conhecemos uma outra opção. Apreciar a natureza é meio caminho andado para aprender a parar. A Natureza, com todos os seus temperamentos, na sua maioria traz uma paz imensa consigo. A suavidade das plantas, a grandiosidade das árvores, a sensação do vento na pele, o toque dos primeiros pingos de chuva, o canto dos passarinhos… São tudo coisas que nos passam ao lado na vida se não soubermos parar e aproveitar. 


A natureza fala connosco e nós com ela. Ainda assim, muitos de nós vivemos sem nunca sentir esta ligação, sem nunca sentir esta sensação de pertencer exatamente onde estamos. Sou apologista de que quem sente este abraço caloroso da Terra, ganha um outro respeito, uma outra perspetiva do mundo em que vivemos.


A correria tira-nos tudo, tira-nos saúde, tira-nos paciência, tira-nos paz e a capacidade de relaxar. Correria cria correria, torna-se um ciclo tão vicioso que queremos tudo para ontem e mesmo assim já vai tarde. No campo, também há correria, sem dúvida alguma. Até certo ponto, está entranhada na forma como todos vivemos hoje em dia. No entanto, no campo, essa correria só nos vale um tanto, porque as plantas exigem que esperemos, trazem-nos os pés à terra e relembram-nos que não pode ser tudo como queremos. Este parar traz humildade.  


Se calhar, ao inicio vai ser muito difícil aprender a parar, é normal que seja. No entanto, a recompensa vale o esforço. Temos um mundo inteiro lá fora, fora do ecrã, fora do escritório, fora da confusão que é a vida. Um mundo sereno, um mundo que nos dá tudo o que precisamos, um mundo cheio de particularidades, cheio de aprendizagens e pronto para nos abraçar. Ainda não fomos para Marte, mas está na hora de voltar à Terra, a nossa casa. A casa para lá das quatro paredes. 


Por isso, convido-vos saiam de casa, sentem-se debaixo da sombra de uma árvore, perto de um rio, observem a dança das abelhas de flor em flor, sintam a brisa na pele, sintam o cheiro da maresia ou deitam-se ao sol. Sente a terra debaixo dos pés, e depois conta-me como foi :) 






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