Comunicado

Foto: Teixeira Correia/JN
 

Estamos 100% solidários com as manifestações que estão a acontecer por todo o país. 

Está na hora (já com muito atraso) dos agricultores dizerem, basta! 

Está na hora de explicar ao cidadão comum quem somos, e acabar com a "má fama" que temos. 

Apesar de sermos todos agricultores*, são muito diversas as áreas e cada uma com as suas especificidades, mas temos muito em comum. 


Em 1º lugar temos cada vez mais exigências... e cada vez preço mais baixo. 

Em 2º lugar temos cada vez mais imprevisibilidade climática... e cada vez preço mais baixo 

Em 3º lugar, temos cada vez mais dificuldade em encontrar mão de obra... e cada vez preço mais baixo. 

Em 4º lugar, temos cada vez mais exigências ambientais (felizmente!)...e cada vez preço mais baixo. 

Em 5º lugar temos cada vez concorrência mais desleal (porque se regem por regras muitas vezes quase inexistentes)... e cada vez preço mais baixo. 

Em 6º lugar porque na grande maioria das vezes temos um Estado que fiscaliza, penaliza, obriga, um Estado que adora exercer o seu poder sempre longe da realidade... e cada vez preço mais baixo 

 

Os agricultores são o grupo profissional mais resiliente 

Os agricultores trabalham lado a lado com o risco. 

Os agricultores vivem na incerteza de nunca saber se o que plantaram hoje vai ser vendido amanhã. 

Os agricultores vivem com a batata quente na mão. Os produtos frescos têm um prazo de validade que faz do timing a variável mais importante em detrimento do preço. 

Os agricultores têm como principal cliente a grande distribuição, o grupo económico mais agressivo.  

 

Só mesmo gente louca ou apaixonada se presta a este fado. 


Todos necessitamos de nos alimentar, mas poucos vêm os agricultores como uma classe imprescindível.
Todos sabemos que sem alimento não sobrevivemos, mas poucos se importam com a sobrevivência do agricultor. 
Todos procuramos viver uma vida o mais desafogada possível, mas poucos acham que os agricultores têm o mesmo direito ao desafogo. Não é pelo facto de produzirmos alimento que temos a obrigação de prescindir do nosso desafogo e do bem-estar familiar em prol do bem comum. 

Os Agricultores são empresários. E bem vistas as coisas, os mais importantes na cadeia de valor. Tratem de cuidar bem deles. 


Vejamos: 


Serão os agricultores subsídio-dependentes?

A "cultura" do subsídio serve a grande distribuição dando-lhe a oportunidade de aparecer como a fada dos preços baixos e deixando para os agricultores a má fama de viverem à custa dos mesmos. Os agricultores subsistiam sem subsídios, a grande distribuição não subsistia num mundo de preços justos. 

Os agricultores são empresários, vivem do que produzem, o que nos faria criar empresas sabendo à partida que não sobreviveriam? 

(Felizmente) são exigidas aos agricultores cada vez mais medidas de proteção do ecossistema. Absolutamente de acordo, mas todos sabemos quanto custam as medidas em prol do ambiente. Tomar medidas verdadeiramente amigas do planeta sai caro (nós bem sabemos) vai obrigar a ajustar preços. 
Como vai ser isto possível quando a grande distribuição obcecada com o preço, em três tempos passa a importar feijão verde ou laranjas vindas de Marrocos (onde as regras são completamente diferentes) em detrimento das nacionais que caem das árvores? 

Quando os agricultores europeus têm medidas cada vez mais restritivas para cumprir e concorrem com produções do Norte de África (onde já reinam agroindústrias nacionais pelas facilidades que aí encontram quanto ás regras de produção) da América do Sul e mesmo da Ásia onde as medidas são praticamente inexistentes. 

Quando mesmo entre os agricultores europeus há os países que "fecham os olhos", há os que sabem fazer o balanço entre as boas práticas e os custos e há os mais papistas do que o Papa, onde, como é óbvio nos enquadramos para orgulho dos governantes e desgraça dos agricultores. 

É o que nos está a acontecer a nós. 
Para a semana conto-vos o enorme problema que estamos a ter com os morangueiros


PS: e para acabar em beleza, na véspera da revolta saem da gaveta da Sra. Ministra uns milhões... o que pensar disto tudo? 


*Deixo de fora desta história as grandes empresas agroindustriais que tal como o nome indica têm muito mais de indústria do que de agro. São os que transformam a nobre arte de cultivar a terra num negócio de exploração abusiva de recursos. São os que vão comendo e aniquilando a verdadeira agricultura

 



Sem comentários

Enviar um comentário

© A vida de uma alface
Design:Maira Gall.