E não, não estamos a falar de peças de automóveis, estamos a falar de alimentos...
Esta coisa dos calibres põe-me fora de mim.
Perguntei a um cliente que fornece grandes superfícies se estaria interessado em tomate cherry.
Resposta: "Sim estamos mas... não pode ter mais de 25mm nem menos de 20".
Pensam que é mentira? Que é impossível? Pois é a realidade de quem anda por aqui.
"O quê?" pergunto.
"Eles rejeitam tudo o que não estiver dentro destes calibres" é a resposta que obtenho.
E são estas "rejeições", entre outras coisas, que me levam a achar que é preciso informar, é preciso pôr os consumidores a pensar...
É a partir destas "exigências" que começa o desperdício de que tanto se tem falado ultimamente.
Claro que ficamos todos de cabelos em pé quando vemos os documentários em que toneladas de frutas e legumes são deitados para o lixo porque não cumprem as normas exigidas.
Todos nós, consumidores conscientes, achamos isto um verdadeiro escândalo. Acho que falando em abstrato ninguém discordará de que é escandaloso o agricultor ser obrigado a "livrar-se" de todo o tomate cherry que tenha menos de 20 ou mais de 25mm (sim, estamos a falar de milímetros).
Imaginemos que a Quinta se limitava, como acontece com a maior parte dos agricultores, a produzir para vender para a grande distribuição.
Imaginemos que depois da "escolha" feita de um total de 100 caixas de tomate sobram 5 (uma excelente média) e que nos vem visitar, olha para as caixas e repara que estão "rejeitadas". O que vai acontecer? Como é óbvio vai ficar chocado. Como é possível que estas 5 caixas de tomate estejam "rejeitadas"?
Felizmente optámos por ter outros meios de escoamento que nos permitem vender tomate cherry abaixo de 20 e acima de 25mm.
Não fosse o caso e este tomate juntar-se-ia aos milhões de toneladas de frutas e legumes cujo calibre está fora dos parâmetros exigidos pelos grandes compradores. Não fosse o caso e não o conseguiríamos vender.
Mas a "culpa" de termos chegado até aqui é de quem? Sim porque tem que haver responsáveis por todo este desperdício, por todo este escandaloso modo de consumir.
E, a meu ver, a culpa é de todos nós enquanto consumidores.
Será que quem ficou chocado ao reparar nas caixas de tomate rejeitado iria ter como primeira opção de compra uma caixa de tomate com vários tamanhos ou preferiria uma onde o tomate estivesse todo perfeito e do mesmo tamanho?
Acho que enquanto consumidores temos muito para refletir.
É com base nas nossas exigências que se formam as exigências de quem vende.
Tenho plena consciência que nada se faz de um dia para o outro, hábitos são difíceis de mudar. Mas não teremos nós, produtores e consumidores de produtos biológicos, a obrigação de não deixar que os maus hábitos se estabeleçam também por aqui?
Não seria importante exigirmos que o tomate cherry com menos de 20mm e mais de 25 pudesse ter um lugar nas prateleiras dos supermercados e à nossa mesa?
Se acha que sim, exija, não se limite a ficar escandalizado. Nós agricultores agradecemos.
PS: Qual é o agricultor que gosta de deitar fora o produto do seu trabalho...árduo?
Gostaria de escrever aqui um quantas palavrinhas... Mas caía no perigo da falta de educação! Fico-me pela incredulidade!!
ResponderEliminarBoa sorte para vocês... São exemplares ❤️
Cláudia (DonaBiscoito)
Não tem comparação, mas, há dias comprei numa grande superfície, 4 cenouras grandes (não biológicas), paguei 5 cêntimos. Pergunto-me quanto terá sido pago a quem as cultivou.
ResponderEliminarA agricultura é um trabalho arduo, difícil, muito bonito, muito menosprezado e tão mal compreendido. A Agricultura biológica é mais difícil ainda, e tão mais em sintonia com as nossas necessidades.
Já se sabe que na industrialização o calibre dos frutos é rigoroso!
ResponderEliminarCá por mim podem me enviar os rejeitados, rsss.
Faz-me lembrar os agricultores nos anos a seguir à PAC, na década de 90, que iam para as TVs falar que lhes saia mais barato mandar as laranjas para o lixo que colocá-las no circuito de venda. Muito por causa disso do calibre. Laranjas que dava para ver a olho nu que eram das deliciosas (dá para ver né, na casca, cor e consistência). E nós com aquelas coisas suculentas e maravilhosas aqui em portugal, a mandar vir de ESPANHA, que tem uma laranja que benza deus, é má como tudo! E isto há mais de 20 anos... laranjas, tomates, pescado... Os agricultores deram todos os alertas, mas Portugal dobrou-se às cotas da Comunidade Europeia...