Comida de pobre...

O feijão maduro que vai sair da horta a partir desta semana deu o mote para este texto porque é parte integrante destas GRANDES recordações.

Era miúda e adorava ir à hora de almoço ter com quem estava a trabalhar no campo. Raspava-me de casa, à revelia do meu pai, atrás dos cheiros que saiam das marmitas.
Não preciso de puxar muito pela memória olfativa para me virem ao nariz, ainda hoje, aqueles cheiros que saiam das marmitas quando a tampa se abria. Estou literalmente com água na boca. Lembro-me tão bem das batatas, das MUITAS couves, do feijão, da feijoca, das favas e ervilhas, do pão maravilhoso agarrado com "a mão toda" e cortado com uma navalha !!!, das azeitonas (por muito que se invente, esta conjugação do pão, da navalha e das azeitonas era realmente muito especial), do queijo seco, das lascas de bacalhau cru, do azeite, até do vinho a martelo que deixava os lábios pintados, que não bebia mas via a satisfação com que o faziam. De vez em quando lá havia uns chouriços, uns ossos para roer do porco que tinham morto (cuja carne nobre ficava para os fins de semana ou festas), uma canja de galinha com mini ovos e tudo....
Não havia leites, manteigas, açucares, processados, corantes ou conservantes.
No fim havia sempre fruta da época que saia das árvores do quintal.
Não havia casa de aldeia que não tivesse a sua horta (a que, vá-se lá saber porquê, todos chamavam vinha), as suas árvores de fruto e a sua "criação".

E diziam que era alimentação de podre ...

Hoje infelizmente na aldeia já poucos o fazem, mas é ver ao lado de prédios com 20 andares hortas a que já não se chamam vinhas, num contra-senso próprio de uma época em que todos queremos retornar às origens.
Porque hoje sabemos que (se lhe retirarmos o vinho a martelo :-)) é a comida mais rica.