A apanha da pêra.



Estamos a começar hoje mais uma apanha da pera na Quinta. A probabilidade de ser a última é enorme. 

Custa. São anos e anos de pomares como paisagem. São árvores plantadas há mais de 40 anos. É o projeto idealizado pelo meu pai há mais de 50. 

Mas a vida evolui e, na minha opinião a melhor homenagem que podemos fazer não é manter por manter o que foi feito mas manter vivo.   

Desde que me lembro, ou seja, há muitos muitos anos, a apanha da pêra sempre era o acontecimento do ano. Era o culminar de um ano de trabalho. Quando finalmente se sabia o quanto tinha "valido a pena". 

E, felizmente, durante muitos anos as contas foram sempre positivas. Nos anos oitenta até muito positivas. A pêra era um excelente negócio. 

Basta olhar para os registos dos anos 80. Parece impossível como em 1986 o preço pago pelo Kg de pera foi de 25,00 escudos !!! (até a mim me espanta), e não foi um ano especial, em 1987 foram 30,00,  em 1988 33,00... 

Se vos disser que o ano passado, ou seja em 2019, 33 anos depois o preço médio pago pelo kg de pera foi de 0,23€, talvez vos espante. 

O produto nacional de exportação por excelência é pago ao produtor a estes preços. E se vos disser, ainda, que o produtor só sabe o preço final da sua produção um ano depois? A apanha da pera é em Agosto mas só em Julho do próximo ano é feito o fecho de contas. Seja com a cooperativa seja com a organização de produtores. É assim que está. 

Mas a nossa decisão de deixar de produzir pera vai para além disto tudo. 

Queremos converter a area restante da Quinta para modo de produção biológico. Fio algo que não pudemos fazer de uma assentada, mas temos vindo a aumentar a área todos os anos. Neste momento temos aproximadamente 12 ha em MPB e 12ha de pomares de pera Rocha em produção integrada. Já tentámos por três vezes fazer a conversão de áreas de pomar para produção biológica que acabaram sempre em arranque. Não conseguimos produzir fruta biológica com uma qualidade minima aceitável. São árvore velhinhas e habituadas a medicamentos, já não reagem a "medicamentos" naturais. 

Mas nesta história temos que ser agradecidos a todas estas árvores cujo fruto nos deu o sustento (exclusivo) durante muitos anos. Nada a apontar. Sempre deram o melhor de si. 

Vamos manter algumas para que nunca nos esqueçamos do inicio de tudo 




















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