Ainda a pera, para fechar o assunto.



Acabamos hoje a nossa apanha e, infelizmente temos muito pouca pera. Temos muita filoxera (um inseto), muita estenfiliose (um fungo).. nomes estranhos para dizer: muita pera estragada. 

Como sabem os nossos pomares não são biológicos, mas fazemos produção integrada. Produção integrada é um modo de produção que limita bastante os produtos de utilização permitida. 

Felizmente há cada vez mais limitações. Mas o que acontece é que, nestes pomares, já tão viciados em produtos químicos, este "alivio" resulta no aparecimento de cada vez mais pragas. 

Isto mostra a dependência e o desequilíbrio que temos vindo a criar depois de anos e anos de guerra aberta ao equilíbrio do eco sistema. 

Nos últimos três ou quatro anos estão a aparecer cada vez mais problemas na produção. Cada ano que passava havia mais queixas. Este ano, estranhamente houve muitos casos de produções que conseguiram debelar estes problemas. 

Em desespero de causa houve quem conseguisse encontrar uma solução. 

Fala-se muito da utilização indevida de produtos na produção biológica. Ninguém fala deste assunto na agricultura convencional. A verdade é que para ambos os modos de produção há produtos permitidos e proibidos. 

E porque um mal nunca vem só, um palote de 200kg de pera ao (absurdo) preço médio de 0,23€ (foi a nossa média em 2019) vale 46€. 

46€ não chega para pagar um dia de trabalho de uma pessoa.... e uma pessoa apanha, numa excelente média, três palotes por dia.

Porque tentamos fazer o menor número de tratamentos possível, este ano, o valor final que vamos receber pela pera (em Julho de 2021(!!) sim em Julho de 2021) provavelmente vai ser para pagar a apanha .... e é assim que estamos 

O final da história da Pera Rocha na Quinta do Arneiro não é de todo um final feliz. Mas, como disse a semana passada, temos que estar muito gratos a estas árvores maravilhosas, algumas delas aguentaram mais de 40 anos a produzir. 

Até nisso tudo mudou. Hoje nos pomares usam-se árvores mais ou menos "descartáveis". Duram 15 anos, esgotam-se à exaustão e depois arrancam-se e põe-se novas. Querer fazer um pomar de sequeiro (porque a fruta sem rega é mil vezes mais saborosa) no sec XXI é praticamente impossível, as novas arvorezinhas são frágeis, já não vivem sem mimos... 

Este texto pode parecer um muro das lamentações, mas não é de todo essa a intenção. São apenas e só simples constatações. 

Se não houver ninguém a falar do que precisa mudar nada muda nunca. 


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