Sem Filtros



Já ouviram falar, com certeza, da quantidade de filtros disponíveis para alindar qualquer foto ou video,  e da discussão que esta nova realidade está a criar. 


Uma enorme panóplia de filtros à disposição. Filtros que distorcem a realidade física, transformando o maior marmanjão num lindo príncipe encantado e qualquer marmanjona numa Super Barbie. Ora isto não é bonito. Primeiro porque há quem ache que eles são mesmo assim e fique deprimido por não lhes conseguir chegar aos calcanhares, depois porque os próprios também acabam por se deprimir quando olham para o espelho (enquanto não criam um espelho com filtros). São tantos e pelos vistos causam tantos danos que já há um movimentos contra os filtros. A Noruega criou um regulamento que obriga a informar sempre que se está a usar um filtro. Mas a Noruega é a Noruega e acredito que por lá não estejam habituados a filtros. 


Estou a tentar levar isto para a brincadeira porque se não há dúvida de que os filtros nas fotos causam muitos problemas, muito maiores são os problemas criados pelos filtros na vida. E esses, de que ninguém fala, são, na minha modesta opinião, bem mais preocupantes porque distorcem a realidade das nossas vidas. Porque nos fazem andar que nem zombis ... e há quem goste de se sentir assim. Cada vez há mais quem prefira andar anestesiado para não se chatear. 


Já não precisamos de drogas, basta assumir o filtro da vida. "- Há ... eu prefiro não ver. Prefiro não saber." Ou " Ah ... realmente  como é isto possível ? deviam ser castigados! como é que não se faz nada?" para logo de seguida fechar as aspas e colocar o filtro. E é assim que estamos. E é assim que vamos. 


Se os filtros da vida fossem comercializáveis seriam o negócio do século. 


Filtros para mostrar felicidade plena e constante; Filtros para ouvir e esquecer; Filtros para transformar em verdade o que é mentira; Filtros que apagam rapidamente qualquer orgia de corrupção; Filtros que num clic apagam da memória tudo o que não se deve lembrar. 


Mas o pior é que há filtros coletivos, criados vá-se lá saber como ou por quem. E a verdade é que funcionam e bem. Deitam uns pózinhos e a malta esquece e não só esquece como perdoa e se for preciso ainda agradece. 


Quando eu era nova não havia filtros. Havia reação e da reação nascia a mudança

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