O incrível negócio da pera



Por favor não deixe de ler.

Alguma vez lhe aconteceu vender algo e só vir a saber o preço a que vendeu (não estou a falar em receber) um ano depois?
Nunca, imagino.
Pois é o que acontece há anos a todos os produtores de pera Rocha (e a maior parte da demais fruta) deste país.
Está de boca aberta? e com toda a razão.
Dizem que é um ótimo investimento, que a pera Rocha é o produto mais exportado, etc, etc...
É realmente o melhor dos negócios mas para o intermediário.
Imagine:
Faz um "acordo" com vários produtores para que lhe entreguem a sua produção de pera todos os anos.
Em Agosto é feita a apanha, por conta do produtor, no fim, fruta pesada, é dado um "adiantamento"* de por exemplo 0,20€ por Kg.
(* em condições normais os adiantamentos são pagos antes da entrega do produto, neste caso a totalidade do produto fica logo do lado do comprador.)
A partir daí e com a pera à sua disposição o intermediário fará os negócios que bem entender para escoar a pera.
Só voltamos a ter notícias da dita em JULHO do ano seguinte, altura em que são feitas as contas finais.

Só depois da pera toda vendida, dos custos apurados, da análise das contas anuais é que o intermediário (seja ele uma cooperativa, uma associação de produtores, uma empresa privada...) dá a conhecer ao produtor o preço final por kg da pera entregue um ano atrás.

Tanto podemos receber 0,23€/kg média como, num ano louco que pode acontecer uma vez numa década, 0,40€/kg.

E a filosofia instalada é a seguinte: se quando nos pagam mal podemos ficar zangados, quando nos pagam bem devemos ficar agradecidos... nunca percebi porquê.

Estas características são próprias de muitos dos "negócios da agricultura".

Resolvi falar deste assunto depois de mais um enorme prejuízo causado pelo calor excessivo do fim de semana passado.
Há muita pera com escaldão. O seguro não cobre, o comprador não paga.
Até ao último dia de colheita o risco está todo do nosso lado. Sejam pragas, fungos, sejam intempéries... seja o que for.
E até ao dia do acerto de contas o risco continua do nosso lado.
Estamos a trabalhar para a campanha seguinte sem fazer ideia do que nos vão pagar pela campanha anterior ...

E se fosse consigo?



5 comentários:

  1. Terá de ser o produtor a fazer a sua própria distribuição. Assim como o marketing do seu produto. Até ser vendido ao consumidor. Implica meios e recursos que parecem impossíveis de reunir... Contudo a mudança deverá ir acontecendo.

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  2. Um absurdo total !!! Como se pode ser ainda agricultor ???

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  3. Absurdo total !!!
    Como se pode ainda ser um agricultor ???
    E do meu lado, como se quer ainda ter fruta e legumes ainda assim ?
    O meu respeito e apoio a vocês

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  4. Também não entendo porque é que os agricultores são sempre quem paga e quem se expõe. É mais barato deixar a fruta na arvore :-(
    Sou sensível ao seu desabafo e espero que seja ouvida.

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  5. Por isso sou a favor(direto do produtor para mesa)

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